Salpicão terrorista
Péricles Capanema
Não estou tratando do
prato de frango, cenoura, ervilha, milho verde, maçã, tanta coisa mais. Falo de
um salpico (pingo de lama) grande, que pode emporcalhar o Brasil inteiro. Piora
situação já terrível.
Vamos ao caso. As FARC
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), organização guerrilheira de
inspiração marxista, tem no tráfico das drogas sua principal fonte de
financiamento. São narcoguerrilheiros. Com o governo colombiano dita
organização conduz para ela vantajoso processo de pacificação por meio do qual
passará a influir na vida política do país, a mais de conseguir perdão para
crimes que vem cometendo desde 1964.
Contudo, circulam
notícias, entre 5% e 10% de seus guerrilheiros (são estimativas, fala-se que o
total das FARC chega perto dos 7 mil), portanto entre 350 e 700 discordariam do
rumo das negociações. Discordância autêntica? Combinada? Não é aqui o momento
de analisá-la. Afirma-se ainda que entre os desmobilizados existiriam centenas,
talvez milhares, de ociosos. Desempregados, digamos.
Um pulo, passo agora
para o Primeiro Comando da Capital (PCC). Teria 30 mil “batizados”, isto é,
“soldados”, dos quais 9 mil no Estado de São Paulo. E seu agora adversário
Comando Vermelho (CV) tem 20 mil “soldados”. Podem voltar a se aliar. Também
aqui não entro na análise de dados, só mostro a enorme envergadura de tais
números.
Feito o introito, chamo
a atenção para notícia estampada no Wall Street Journal, 1º de fevereiro, por
muitos considerado o mais sério jornal dos Estados Unidos. O PCC está
contratando guerrilheiros das FARC para intensificar o tráfico da cocaína e
facilitar o controle de mercados.
O diário nova-iorquino
transcreve palavras de Luís Carlos Villegas, ministro da Defesa da Colômbia: “O
PCC está oferecendo empregos para as FARC”. Com isso, receberia, além da mão de
obra, armas e técnicas de guerrilha de que anda necessitado.
Lincoln Gakiya,
promotor público paulista, estudioso do tema, adverte: “O PCC é obcecado com
treinamento militar. Está procurando metralhadora ponto 50, capazes de derrubar
helicópteros e de perfurar carros blindados”.
Altos funcionários dos ministérios
da Defesa e das Relações Exteriores do Brasil e da Colômbia se reunirão em
Manaus a partir do dia 2 de fevereiro para compartilhar informações sobre como
o PCC está trabalhando para incorporar guerrilheiros a seus quadros.
Na América Central,
estudiosos apontam para a situação de “Estado falido” da Guatemala, Honduras e
El Salvador, o Triângulo do Norte, próximo ao México, onde atuam poderosas
organizações do narcotráfico. Aproveitando-se das estruturas estatais débeis,
tais máfias se infiltraram em especial nos corpos de segurança e justiça.
Hoje controlam grandes
áreas, compraram funcionários, fundaram empresas de fachada, entre as quais
algumas de segurança. Nas áreas controladas, executam funções típicas de
governo (entre outras, manutenção da ordem e assistência social). Situação
parecida temos em favelas cariocas e em vários outros pontos do Brasil.
Nesses três países,
policiais corruptos, a mando do narcotráfico, executam pessoas. Honduras,
Venezuela, Belize, El Salvador e Guatemala são os cinco países do mundo com
maior taxa de homicídios. A média mundial é de 6,2 mortes por 100 mil
habitantes. Honduras, 90,4; Venezuela, 53,7, Belize, 44,7, El Salvador, 41,2;
Guatemala, 39,9.
“O motivo principal de
tantas mortes violentas é o crime organizado”, explica Angela Me, pesquisadora
das Nações Unidas e coordenadora da pesquisa. Para comparação, Brasil, 29,1;
Suíça, 1; Japão, 0,44. A presença insidiosa e corruptora do crime organizado no
país inteiro, agora possivelmente facilitada pelos pontos de apoio e know-how
das FARC, pode rapidamente empurrar o país para situação parecida com a do
Triângulo do Norte.
Cerca de um mês atrás
tratei em artigo divulgado por vários veículos do mesmo problema. Então
escrevi: “Os choques entre as gangues do narcotráfico – 27 facções conhecidas
da Polícia – ameaça não apenas o sistema prisional brasileiro, mas o próprio
futuro do Brasil. Na América Central já há países virtualmente dominados pelos
chefões do tráfico”.
Era fácil prever o que
já começa a acontecer: “As FARC, organização guerrilheira narcomarxista,
controlava aproximadamente 40% da produção colombiana. Têm bases na Amazônia,
enviam drogas até para o Paraguai, de onde entram no Brasil. Como ficará esse
tráfico após a pacificação em curso? Como agirão os grupos dissidentes das
FARC, que continuam trocando cocaína por dinheiro e armas”?
Constatava: “As
fronteiras brasileiras são pouco policiadas, o Brasil é o segundo mercado
consumidor de cocaína no mundo e provavelmente o maior consumidor de drogas,
cuja base é a cocaína, o crack entre elas.[...] Segundo documento do
Departamento de Estado dos Estados Unidos o governo brasileiro ‘não tem a
capacidade necessária para conter o fluxo de narcóticos através de suas
fronteiras’”.
E concluía: “Ainda não
tratei do amadorismo. [...] Basta ler os jornais, ouvir notícias, assistir
noticiários e nos agride por todos os lados, a irreflexão, a superficialidade,
o desconhecimento dos temas em pauta.
Autoridades, supostos
especialistas, jornalistas, gente de toda laia estão opinando com pouca ou
nenhuma ciência, com escassa ou nula experiência. Que falem os entendidos dos
livros e da labuta, o assunto é sério demais para ser assim
ventilado”. De lá para cá, a situação só se agravou. Daí o alerta renovado.
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