terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Carnaval vermelho: 100 fazendas invadidas


FNL invade fazendas em 12 Estados pelo 
'Carnaval Vermelho'
Comandos locais da Polícia Militar confirmam ocupações em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Mato Grosso e Distrito Federal 

José Maria Tomazela
O Estado de S.Paulo



SOROCABA – Integrantes da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) invadiram cerca de 100 fazendas em doze Estados, entre a madrugada de sábado e a manhã deste domingo (19), na ação chamada “Carnaval Vermelho” pela reforma agrária. 
O líder da frente, José Rainha Junior, afirma ser “uma das maiores jornadas de luta em ocupações de terra no Brasil”. Segundo ele, para cobrar a distribuição de terras, estão mobilizados mais de 10 mil militantes e camponeses.
Até a tarde, os comandos locais da Polícia Militar confirmavam ocupações em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Mato Grosso e Distrito Federal. Em outros Estados, a PM não tinha sido informada das ações. 
“As ocupações têm como objetivo chamar a atenção do governo para o descaso que vem tratando a reforma agrária, que há muito tempo está paralisada”, informa nota distribuída pela FNL.
Em São Paulo, a reportagem confirmou invasões de 16 propriedades nas regiões de Itapetininga, Andradina, Araçatuba, Bauru e no Pontal do Paranapanema. 
Só no Pontal, palco dos maiores conflitos agrários do Estado, foram ocupadas dez fazendas. Os sem-terra cortaram cercas e cadeados para entrar nas áreas. Em algumas áreas, a ocupação foi feita por grupos pequenos, com até 20 militantes, segundo a PM.
Em entrevista, Rainha Junior disse que a situação no campo é grave. “A miséria e o desemprego aumentam a cada dia e a política do governo é investir bilhões no agronegócio, enquanto o pequeno agricultor fica à míngua.” 
Ele cobrou a criação de um ministério para a agricultura familiar. "O governo investe no sistema prisional e esquece a agricultura familiar, que fixa o homem no campo. Estamos voltando ao Brasil Colônia, com nossas terras sendo vendidas a grupos estrangeiros por preço de banana, enquanto milhares de sem terra vivem na extrema pobreza, na beira de estradas, debaixo de lonas pretas.”

O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse a entidade que representa os fazendeiros vai entrar com representação civil e criminal contra os líderes da FNL. 
“Invasão é crime e José Rainha já foi condenado a mais de 30 anos de prisão, no entanto continua sua atividade criminosa. Está na hora das autoridades, inclusive do Judiciário, mostrarem que estão aí para serem respeitadas e não sofrerem esse tipo de deboche.” 
Segundo ele, as invasões causam danos às propriedades e paralisam a atividade produtiva, mas os prejuízos aos produtores rurais não são reparados.
Ex-dirigente do Movimento dos Sem Terra (MST), em 2015, Rainha Junior foi condenado a 31 anos e cinco meses de prisão, em primeira instância, por crimes de extorsão, formação de quadrilha e estelionato, após ser investigado num esquema de desvio de recursos da reforma agrária. 
Ele conseguiu habeas corpus para esperar o julgamento do recurso em liberdade. Antes, chegou a ficar preso por invasão, depredação de propriedade e porte ilegal de arma. Ele nega os crimes e se diz perseguido por sua militância social.
No ano passado, a FNL realizou o “Carnaval Vermelho” com 80 ocupações no País, entre elas, as sedes do Incra e do extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em Brasília. Em maio, os militantes invadiram a Fazenda Esmeralda, em Duartina, interior paulista, pertencente a João Baptista Lima Filho, ex-assessor e amigo do presidente Michel Temer. 
Uma semana após desocupar a fazenda, Rainha foi recebido por Temer no Palácio do Planalto, em encontro intermediado pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP).
Não havia expediente no Incra ontem e a assessoria de imprensa não tem plantões no fim de semana. Em posicionamentos anteriores, o Incra informou que busca o diálogo com os movimentos sociais e, ao mesmo tempo, executar a nova política para a reforma agrária definida pelo presidente Michel Temer, que inclui a titulação dos lotes já ocupados pelos assentados. 
Segundo o Incra, o governo definiu formas para reorganizar os assentamentos e que facilitam a aquisição de terras para criar novos assentamentos.




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