quarta-feira, 27 de maio de 2015

Cada rosa representa um ano de libertação dos escravos


Neto de escravos agradece a Princesa Isabel 




O SR. MISAEL VARELLA (DEM-MG. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero homenagear o meu conterrâneo João Paulino Barbosa, de Desterro do Melo, Minas Gerais, lavrador, poeta e neto de escravos, que viajou 250 quilômetros com 127 rosas para depositar junto ao túmulo da Princesa Isabel na Catedral de Petrópolis-RJ. 

Para João Paulino, cada flor representa um ano de libertação dos escravos.
 
João Paulino ficou conhecido em razão deste seu ato de gratidão à Princesa Isabel no último dia 13 de maio, quando se completaram 127 anos da abolição da escravatura. 

Ele fez as contas e, antes de enfrentar as seis horas de viagem que separam Desterro do Melo de Petrópolis comprou 127 rosas em uma floricultura de Barbacena. 

O lavrador entrou na catedral com passos miúdos na hora da missa, com um sorriso tímido e respeitoso, abraçado a seis quilos de rosas que formavam quatro buquês, as depositou junto ao túmulo e rezou. 

Recebeu uma salva de palmas e, antes de se sentar para ouvir a missa, fez um último ato à homenageada. Pendurou um banner ao lado do túmulo dela com um de seus poemas: A Princesa Isabel é o próprio buquê de flores, a estrela guia, o caminho e o amor.

No dia seguinte à homenagem à redentora, o lavrador João Paulino levantou-se às 5 horas da manhã e caminhou 8 quilômetros, até a fazenda onde trabalha. Ele que seguiu a profissão aprendida em família: desde muito pequeno dá duro da manhã à noite nas roças de milho, de cana-de-açúcar e na criação de gado leiteiro. 

Conseguiu estudar um pouco. Aos 7 anos aprendeu a ler e a escrever, aos 8 tomou conhecimento dos números, e mais nada. Desde então, a sua vida é roça — exceto nos momentos em que faz arte. Diz tratar-se de um milagre que recebeu ter começado os atos, como ele chama toda arte que produz sobre a Princesa Isabel.

Vitor Hugo Brandalise, do jornal O Estado de São Paulo, continua a descrição no artigo denominado A natureza de João: o septuagenário lavrador João Paulino Barbosa, que vive no interior de Minas e é poeta toda vez que larga a enxada, sentiu falta de algo mais. 

Pensou um pouco sem pousar a caneta, deixou vir àquela parte sua que nasce da natureza – assim ele se refere ao que chamamos de inspiração –e arrematou, em letras grandes:

Escravo, uma palavra com desígnio de extinção. João Paulino Barbosa, de Desterro do Melo, Minas Gerais, como ele costuma se apresentar, deu-se então por satisfeito e assinou o poema à maneira de sempre. Assim a história me diz / E diz esse poeta por nome João.

O poema de João Paulino conta sua própria experiência: o avô, homem negro como ele, que se chamava apenas Paulino, foi trazido da África na segunda metade do século 19 e escravizado nas terras dessa mesma região onde João Paulino vive hoje para trabalhar nas roças. 

João Paulino não o conheceu, mas ouviu do pai durante a infância toda como era a vida na senzala, os castigos impostos àqueles que desobedeciam e como o seu avô Paulino era um homem obediente, que não causava problemas aos patrões. 

O pai também comentava que, se tivera a oportunidade de nascer homem livre, era graças a uma senhora bondosa chamada Princesa Isabel. E que ele, João Paulino, deveria agradecer sempre à Princesa, por poder viver ali no seu pedacinho de terra, seu rancho, dentro da propriedade dos patrões, por poder plantar a horta de feijão e mandioca e pelas moedas que agora às vezes sobravam para o resto dos mantimentos. 

Era tudo graças a Isabel, filha do imperador do Brasil, que assinara a lei que libertou os escravos, inclusive o seu avô. Nascia ali uma devoção. Até mais do que isso, já que, além de lavrador, João Paulino escreve versos.

Sr. Presidente, que bonita homenagem de João Paulino, que bem representa os verdadeiros valores de nossa Pátria! Homem simples, mas de alma grande. Que Deus guarde a alma da nossa tão querida Princesa Isabel, que já é santa no coração dos brasileiros! E que também preserve o nosso povo com sua alegria e bondade, longe e livre do ódio de classes insuflado pelos marxistas.

Tenho dito.

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