segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Commodity caipira...,




 ... o feijão atrai agricultor


José Maria Tomazela


Nem mesmo a queda do preço por causa do excesso de produção tira o apetite do produtor em apostar nessa cultura


O agricultor Nelson Nunes.de Itapetininga, sudoeste paulista, planta feijão há mais de 30 anos e explica a seu modo o fascínio que tem pela cultura. "Já pensei em procurar um psicólogo para me ajudar a não plantar mais feijão." 

Produtor de grama, Soja, Milho e outros grãos, Nunes conta que, ultimamente, manter a cultura tradicional tem sido motivo de briga com os filhos. Nesse momento, ele colhe 85 hectares de feijão de primeira safra e só tem queixas. "A produção não foi boa e o preço despencou. Se não tiver mudança, vou perder RS 1,5 mil por hectare." Mesmo assim, já prepara novo plantio. 

Nunes sabe que o preço baixo - RS 80 a saca de 60 quilos -decorre do excesso de produção. No ano passado, ele chegou a vender feijão a RS 240 a saca e o grão garantiu a renda que outras culturas, como o Milho, não deram. 


O mais recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento, este mês, mostra que, no Brasil, a área do feijão de primeira safra aumentou 44% em relação ao ano anterior, mas a produtividade teve um ganho de 19,9%, elevando a produção em 35,6%. 

O resultado guarda relação com outro fenômeno que o agricultor conhece bem. Aproveitando a tecnologia usada no cultivo de commodities como Soja, Milho e trigo, o feijão se tornou uma espécie de commodity caipira. 


"Foi o tempo em que feijão era plantado e colhido à mão. Hoje, a Lavoura usa o mesmo maquinário da Soja e o pacote tecnológico do Milho." 

A mesma profissionalização não atingiu a comercialização, pois o consumo é interno, e o preço, ditado pela lei da oferta e da procura. 

O agricultor e engenheiro agrônomo Luis Paulo Mendes, de Campina do Monte Alegre, conta que a região foi afetada por um período de 40 dias sem chuvas entre outubro e novembro, no período de floração do feijoeiro, causando grandes perdas. 


"Na minha área, com tecnologia para colher 50 sacas por hectare, não colhi mais que 20." Mendes já pensa em investir em irrigação. 

Para o dirigente da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado em Itapeva, Vandir Daniel da Silva, os bons preços na safra passada tiveram influência na renda do campo e estimularam novos plantios. 


Apenas em Itapeva, a área cultivada na primeira safra aumentou de 3 mil para 7 mil hectares. A produção maior, no entanto, fez o preço cair, deixando um clima de incerteza para as próximas safras.

OESP, 26 de janeiro de 2014

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