quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Pá de cal na Reforma Agrária e o ...


... setor agropecuário

(Continuação)

No mês de setembro veio a lume um artigo com título que chega a surpreender, pois era raro em nossa imprensa: “Pá de cal na Reforma Agrária”. O autor não é fazendeiro, mas sociólogo e professor da UFRGS, Zander Navarro, antigo defensor e ativista da Reforma Agrária. Navarro, em matéria para O Estado de São Paulo (21/09/13), explica:

"Usei o mesmo título em artigo publicado em 1986, indignado com a afronta do governo Sarney ao nomear um latifundiário para o INCRA. Naquela década me envolvera no ativismo a favor da reforma agrária. Não obstante o anúncio pessimista, o esforço do conjunto de militantes contribuiu para animar a única política de redistribuição de terras já feita no Brasil, iniciada em 1996”.

“Desde então, em torno de 1 milhão de famílias recebeu suas parcelas e aproximados 80 milhões de hectares foram arrecadados para constituir os assentamentos rurais — mais de três vezes a área de São Paulo".

Para o autor, chegou o momento de fazer o seu funeral: "Mantenho o título acima porque é preciso reconhecer desapaixonadamente o fato, agora definitivo: morreu a reforma agrária brasileira

Falta apenas alguma autoridade intimorata para presidir a solenidade de despedida. Atualmente a ação governamental nesse campo é um dispendioso e inacreditável faz de conta, sendo urgente a sua interrupção".

E Navarro continua tratando da agonia do MST e da evasão dos assentamentos:

"Outro fator a ser considerado diz respeito às organizações que demandam reforma agrária, responsáveis pelas pressões que ativaram esta recente “bolha” redistributiva. 

O MST agoniza simultaneamente ao desaparecimento da reforma agrária, a razão de seu nascimento. Não soube refundar-se nessa nova fase do desenvolvimento agrário e vai se apagando melancolicamente”.

“Seu consolo é que fará boa figura nos livros de História. E a Contag, poderosa em razão de sua capilaridade, insiste na bandeira empurrada somente pela tradição. Seus dirigentes sabem ser outro o maior desafio: tentar salvar da desistência os milhares de pequenos produtores ameaçados pelo acirramento concorrencial instalado no campo".

E mostra o contraste: "Outra razão a ser considerada decorre do desempenho da agropecuária no mesmo período, o qual inundou os mercados com volumes crescentes e, graças ao espetacular aumento da produtividade, barateou os alimentos". 

"Tal transformação eliminou o velho argumento econômico da necessidade da reforma agrária e, se a população rural mais pobre migrou para as cidades, igualmente a justificativa social deixou de existir”.

"Mas há ainda um aspecto decisivo: oferecer uma parcela de terra a famílias rurais não produz mais nenhum efeito prático, apenas garante uma sobrevida temporária. Em nossos dias, chegar à terra própria nada significa para os mais pobres do campo”.

“Produzirá a chance do autoconsumo ocasional, antes do abandono definitivo da terra, como evidenciado na maioria dos assentamentos rurais. De fato, trata-se de dura vilania política, pois, enquanto a miséria no campo se esconde atrás das muletas das políticas sociais, o governo federal coleta números destinados meramente ao autoelogio".

Navarro aponta: "Por tudo isso, a Reforma Agrária brasileira concluiu o seu ciclo de vida". Caro leitor, com todo o respeito, trata-se do fim de uma excrescência que sequer deveria ter nascido, pois os brasileiros tiveram de pagar um valor altíssimo por ela".

E conclui o sociólogo gaúcho: "Do ponto de vista econômico e produtivo, seu fracasso é assombroso, pois a área total dos assentamentos é maior do que a área plantada de todos os cultivos nos demais estabelecimentos rurais”.

“Mas, com surpresa, nada sabemos especificamente sobre a produção dos assentamentos, enquanto a agricultura brasileira se tornou uma das mais eficientes do mundo. É um confronto estatístico que desmoraliza qualquer defesa de tal política. Persistir em sua continuidade, portanto, beira a completa insanidade”.

"Já o Ministério do Desenvolvimento Agrário, preso à sua anacrônica hibernação, mantém-se impassível ante a notícia acima e persevera em fantasias para justificar o clamoroso desperdício de vultosos recursos públicos, na tentativa de realizar o irrealizável”.


“Ainda mais espantoso, tenta ressuscitar o que já morreu. Resta saber se a autoridade maior do País terá a coragem de finalizar este capítulo de nossa História".

Um comentário:

Rinaldo dos Santos disse...

A Reforma jamais poderia "reformar" o que nunca foi "formado". O Brasil pedia uma "formação" fundiária, uma política agrária decente. Não fez e continua sem fazer. O maior exemplo é o Nordeste, com minifúndios asfixiantes, núcleos de miséria, que são úteis para o "curral de votos fáceis" dos Governos que se sucedem. Reforma Agrária, como na Rússia, é exemplo claro de GENOCÍDIO de uma população que quer comida e, não necessariamente, terra. Ninguém coloca terra no prato para comer: coloca comida.
Os Governos já enviaram nordestinos para Amazônia, Maranhão, Rondônia, Mato Grosso, etc. e todos foram assassinados pelo descaso, inércia, deboche governamental. Sobre esses "genocídios" a mídia não abre a boca. Mas exige "indenização" para os exilados de 1964 (meia dúzia), enquanto milhões de vidas foram jogadas fora para tentar um novo Brasil.
É um "Brasil das Bananas", mesmo, onde meia dúzia assume o Poder, faz o que quer, sem racionalidade, sem base técnica (como a transposição do rio São Francisco), tudo pelo Partido. Um país de moral duvidosa (nos comandantes), sem ética, sem família, sem amor ao chão onde pisamos. Um país que não lê nem sua própria História (maravilhosa), cheia de momentos épicos e todos eles (todos) fora dos livros escolares.
Coitado do Brasil enquanto houver gente como Lula, Dilma, etc. A sorte de todos nós é que há muitos, milhões de brasileiros, com pés no chão, tocando o país para frente, apesar dessas corrupções e violências gratuitas contra o cidadão.